Professora Ida Maria
Projeto de vida8ºA/B/Ccel: (19) 98153-6415
A frágil saúde dos adolescentes
Os adolescentes passam por tantas transformações
que mesmo eventuais problemas de saúde podem ser vistos como passageiros.
Algumas alterações são normais nessa fase, mas nem tudo pode se resolver mais
tarde sem maiores dramas. Dois amplos inquéritos nacionais – um com 75 mil e
outro com 100 mil adolescentes avaliados em todo o país – desenharam um quadro
preocupante da saúde da rapaziada. Um em cada quatro adolescentes apresentou
excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) e um em cada dez, hipertensão
arterial. De acordo com os exames de sangue feitos em um dos estudos, um em
cada cinco apresentou taxas acima do recomendável de colesterol total. Essas
alterações metabólicas ampliam o risco de morte por infarto e favorecem o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes. A obesidade, a
inatividade física e o tabagismo, também encontrado entre os jovens em níveis
que os especialistas consideram preocupantes, podem contribuir para o
desenvolvimento de alguns tipos de câncer. O excesso de gordura em circulação
no organismo pode prejudicar até mesmo o funcionamento do hipotálamo, a região
do sistema nervoso central que, entre outras funções, controla o apetite.
Um dos levantamentos, o Estudo de Riscos
Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), mobilizou cerca de 500 pesquisadores
de 30 universidades do país. Em 2013 e 2014, os entrevistadores coletaram informações
sobre 75 mil adolescentes de 12 a 17 anos em 1.247 escolas públicas e privadas
de 124 municípios de todo o país. De acordo com esse estudo, financiado pelo
Ministério da Saúde (MS), o sedentarismo, que pode levar ao ganho contínuo de
peso, é alto. A maioria (54,3%) dos adolescentes avaliados não pratica
atividades físicas regulares além das aulas de educação física, de modo a
atingir as cinco horas semanais de exercícios, recomendáveis para essa faixa de
idade.
A maioria (66,6%) também passa duas ou mais horas
por dia na frente da televisão, diante da qual prefere fazer as refeições, nem
sempre regulares. Metade dos participantes do estudo relatou o hábito de tomar
café da manhã e fazer as refeições com os pais, mas a outra metade,
principalmente os estudantes de escolas públicas, não tem horários regulares e
companhia dos familiares, e mantém uma alimentação desequilibrada e pouco
nutritiva, com muitos alimentos industrializados, em geral muito calóricos, com
níveis elevados de gordura e sal.
“Temos de nos preocupar com os problemas de
saúde e com os hábitos dos adolescentes, como o sedentarismo, o consumo de
bebidas alcoólicas e o tabagismo, que dificilmente serão modificados depois”,
comenta a médica Katia Vergetti Bloch, professora de epidemiologia do Instituto
de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e
coordenadora nacional do Erica, detalhado em 13 artigos publicados na edição de
fevereiro da Revista de Saúde Pública.
“O risco de se tornarem adultos com problemas crônicos de saúde é muito alto.”
“A obesidade tornou-se um problema de saúde pública a partir da década de 1980, quando as empresas produtoras de alimentos industrializados descobriram como conservar melhor e ampliar a distribuição de seus produtos, primeiramente nos Estados Unidos e Inglaterra e depois em outros países”, informa a bióloga Ana Lydia Sawaya, professora da Unifesp e uma das fundadoras do Cren, que dirigiu até 2006. “A obesidade está caindo nas classes mais altas, por causa do reconhecimento das causas, mas continua crescendo nas mais baixas. Em consequência, agora estamos vendo crianças com 12 anos com diabetes tipo 2, resultante do excesso de açúcar no sangue, e esteatose hepática, o acúmulo de gordura no fígado. Em 30 anos, nunca tinha visto casos assim”, diz ela, referindo-se aos primeiros exames de um novo projeto do Cren para tratar 930 crianças obesas com 10 a 12 anos de idade que estudam principalmente em escolas públicas.
“Não é difícil nem caro eliminar a desnutrição e a obesidade como problemas de saúde pública”, diz Ana Lydia. “O Estado já tem uma estrutura para passar conteúdo sobre boa alimentação de modo persuasivo, compreensível e adequado, por meio de campanhas em postos de saúde e formação em nutrição das equipes dos programas de serviço da saúde.” Para ela, a venda de alimentos ultraprocessados em escolas e para crianças com menos de 18 anos deveria ser proibida, como já se faz com cigarros. “Uma legislação adequada traria um impacto imediato em milhões de pessoas.” Segundo a Pense, metade dos estudantes de escolas públicas pode comprar doces, refrigerantes e salgadinhos industrializados nas cantinas de suas escolas e comer guloseimas quase todo dia.