Olá, alunos
Esta é a nossa avaliação referente ao 3º bimestre.
Vocês podem me enviar as respostas (word, pdf ou foto do caderno) via wpp ou no email: jessicablima@prof.educacao.sp.gov.br. Não se esqueçam de colocar identificação (nome completo e turma)
Um abç
Professora Jessica
Avaliação
de Filosofia
Humilhação Social
“A humilhação social corresponde a um caso
particularmente doloroso de angústia: um afeto mórbido derivado da exposição do
homem pobre a mensagens de inferioridade social. Mensagens que lhe são
assiduamente dirigidas pelos outros e pela cidade. Mensagens verbais e também
mensagens mudas: são palavras ou são circunstâncias públicas que lhe parecem
como o perpétuo lembrete de que não estão em casa.
Simone Weil, quando fresadora na
Renault, anotou em seu diário de fábrica:‘Saindo do dentista (terça de manhã eu
acho, ou talvez quinta de manhã) e subindo no ônibus, reação estranha. Como eu,
a escrava, posso entrar neste ônibus, usá-lo graças a meus 12 centavos como
qualquer um? Que favor extraordinário! Se me obrigassem brutalmente a descer
dele dizendo que meios de locomoção tão cômodos não são para mim, que eu só
devo andar a pé, acho que me pareceria natural. A escravidão me fez perder
totalmente o sentimento de ter direitos. Parece um favor ter momentos em que
não preciso agüentar a brutalidade humana.’ [In: A condição operária e outros
estudos sobre a opressão. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979, p.87. ]
O sentimento da dignidade humana parece desfeito. Deixa
de ser espontâneo. É preciso um esforço de atenção para conservá-lo. Um esforço
nem sempre eficaz para o humilhado — um cidadão pobre não é humilhado porque
sente ou imagina sê-lo: o sentimento e a imaginação estão fincados numa
situação real de espoliação econômica e aviltamento público. No humilhado, a
submissão é que se torna espontânea. Diríamos melhor: torna-se automática,
compulsiva. A humilhação social é, sem dúvida, um fenômeno histórico. A
humilhação crônica, longamente sofrida pelos pobres e seus ancestrais, é efeito
da desigualdade política, indica a exclusão recorrente de uma classe inteira de
homens para fora do direito à casa, direito ao trabalho e direito à cidade. Mas
é também de dentro que, no humilhado, a humilhação vem atacar. A humilhação
assume internamente, como um impulso angustiante, o corpo, o gesto, a
imaginação e a voz do humilhado. A humilhação social é fenômeno ao mesmo tempo
político e psicológico, caracteriza assiduamente a psicologia do oprimido:
desencadeia afetos embriagantes ou paralisadores.
As formas deste desencadeamento podem variar: são
lágrimas, o emudecimento, o protesto confuso, a ação violenta e até o crime.
Estudantes de Psicologia Social da Universidade de São Paulo foram solicitados
a uma experiência de trabalho. Deveriam assumir, por um dia, tarefas simples e
subalternas, geralmente desempenhadas por cidadãos pobres.
Um estudante, Fernando Braga da Costa, foi gari na
Cidade Universitária, e disse haver se sentido ‘invisível’. Explicou: vestiu o
uniforme e trabalhou de manhã — varreu calçadas e ruas, transportou lixo,
capinou gramados e retirou o barro acumulado de canteiros. No meio da tarde,
passou uniformizado pelo Instituto de Psicologia. Entrou no prédio e reparou o
desaparecimento dos acenos (algum gesto ou palavra breve) que, quando
estudante, são comuns entre ele e quem cruza. Surpreendeu-se especialmente nas
vezes em que passou despercebido por pessoas que estudam com ele: não o viram,
passaram ao largo, sem cumprimentos. Era um uniforme que perambulava: estava
invisível. Desaparição do homem na tarefa serviçal.
Algumas estudantes foram empacotadoras em supermercado.
Mencionaram as senhoras que apressavam os embrulhos, irritando-se facilmente,
enchendo-lhes de exigências e reclamações sobre os pacotes. De uma das
estudantes um fiscal solicitou com um safanão os seus serviços no caixa
vizinho. Nestas horas, sentiam-se entregues ao mando e desmando. Márcia
Ferreira Amêndola disse haver se sentido ‘demais visível’. Desejaram sumir,
possuir alguma coisa que não fosse acessível ao comando dos outros.
Os pobres sofrem freqüentemente o impacto dos maus
tratos. Psicologicamente, sofrem continuamente o impacto de uma mensagem:
‘Vocês são inferiores’. E, o que é profundamente grave: a mensagem passa a ser
esperada. Para os pobres, a humilhação ou é uma realidade em ato ou é
freqüentemente sentida como uma realidade iminente, sempre a espreitar-lhes,
onde quer que estejam, com quem quer que estejam.
O sentimento de não possuírem direitos, de parecerem
desprezíveis, torna-se-lhes compulsivo: movem-se e falam, quando falam, como
seres que ninguém vê.
Segue urgente a tarefa de superação política e
psicológica da humilhação social, tarefa que é de todos nós: tarefa a que se
dedicam os cidadãos pobres, pessoal ou coletivamente, consciente ou
inconscientemente, reagindo isoladamente ou em grupos organizados. [O autor (José Moura Gonçalves Filho) é do Departamento de
Psicologia Social e do Trabalho da USP]”
A partir do texto acima, responda às
questões:
1-
A
humilhação social é um processo de discriminação a partir de que
característica?
2- Segundo o dicionário,
Humilhação: Ação em que alguém humilha, rebaixa,
diminui o valor de outra pessoa ou coisa; rebaixamento moral; afronta,
diminuição.
Considerando as
diferenças sociais/econômicas como algo que
determina seu valor na sociedade
(capitalista), cite 2 exemplos de formas de Humilhação Social (pode ser ou não
algo vivenciado por você)
3-
Faça
uma reflexão sobre como a Humilhação Social pode significar um processo de
alienação*
*Alienação
[Filosofia]: Segundo o hegelianismo, momento em que a consciência
se torna desconhecida a si própria ou a sua própria essência.
[Psicologia] Estado da pessoa que, tendo sido educada em condições
sociais determinadas, se submete cegamente aos valores e instituições dadas,
perdendo assim a consciência de seus verdadeiros problemas.