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PSICOLOGIA VIVA

30 agosto, 2021

Avaliação de Filosofia - 3º bimestre - 2º ano

  Olá, alunos

Esta é a nossa avaliação referente ao 3º bimestre.

Vocês podem me enviar as respostas (word, pdf ou foto do caderno) via wpp ou no email: jessicablima@prof.educacao.sp.gov.br. Não se esqueçam de colocar identificação (nome completo e turma)

Um abç

Professora Jessica


Avaliação de Filosofia

Humilhação Social


“A humilhação social corresponde a um caso particularmente doloroso de angústia: um afeto mórbido derivado da exposição do homem pobre a mensagens de inferioridade social. Mensagens que lhe são assiduamente dirigidas pelos outros e pela cidade. Mensagens verbais e também mensagens mudas: são palavras ou são circunstâncias públicas que lhe parecem como o perpétuo lembrete de que não estão em casa.

Simone Weil, quando fresadora na Renault, anotou em seu diário de fábrica:‘Saindo do dentista (terça de manhã eu acho, ou talvez quinta de manhã) e subindo no ônibus, reação estranha. Como eu, a escrava, posso entrar neste ônibus, usá-lo graças a meus 12 centavos como qualquer um? Que favor extraordinário! Se me obrigassem brutalmente a descer dele dizendo que meios de locomoção tão cômodos não são para mim, que eu só devo andar a pé, acho que me pareceria natural. A escravidão me fez perder totalmente o sentimento de ter direitos. Parece um favor ter momentos em que não preciso agüentar a brutalidade humana.’ [In: A condição operária e outros estudos sobre a opressão. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979, p.87. ]

O sentimento da dignidade humana parece desfeito. Deixa de ser espontâneo. É preciso um esforço de atenção para conservá-lo. Um esforço nem sempre eficaz para o humilhado — um cidadão pobre não é humilhado porque sente ou imagina sê-lo: o sentimento e a imaginação estão fincados numa situação real de espoliação econômica e aviltamento público. No humilhado, a submissão é que se torna espontânea. Diríamos melhor: torna-se automática, compulsiva. A humilhação social é, sem dúvida, um fenômeno histórico. A humilhação crônica, longamente sofrida pelos pobres e seus ancestrais, é efeito da desigualdade política, indica a exclusão recorrente de uma classe inteira de homens para fora do direito à casa, direito ao trabalho e direito à cidade. Mas é também de dentro que, no humilhado, a humilhação vem atacar. A humilhação assume internamente, como um impulso angustiante, o corpo, o gesto, a imaginação e a voz do humilhado. A humilhação social é fenômeno ao mesmo tempo político e psicológico, caracteriza assiduamente a psicologia do oprimido: desencadeia afetos embriagantes ou paralisadores.

As formas deste desencadeamento podem variar: são lágrimas, o emudecimento, o protesto confuso, a ação violenta e até o crime. Estudantes de Psicologia Social da Universidade de São Paulo foram solicitados a uma experiência de trabalho. Deveriam assumir, por um dia, tarefas simples e subalternas, geralmente desempenhadas por cidadãos pobres.

Um estudante, Fernando Braga da Costa, foi gari na Cidade Universitária, e disse haver se sentido ‘invisível’. Explicou: vestiu o uniforme e trabalhou de manhã — varreu calçadas e ruas, transportou lixo, capinou gramados e retirou o barro acumulado de canteiros. No meio da tarde, passou uniformizado pelo Instituto de Psicologia. Entrou no prédio e reparou o desaparecimento dos acenos (algum gesto ou palavra breve) que, quando estudante, são comuns entre ele e quem cruza. Surpreendeu-se especialmente nas vezes em que passou despercebido por pessoas que estudam com ele: não o viram, passaram ao largo, sem cumprimentos. Era um uniforme que perambulava: estava invisível. Desaparição do homem na tarefa serviçal.

Algumas estudantes foram empacotadoras em supermercado. Mencionaram as senhoras que apressavam os embrulhos, irritando-se facilmente, enchendo-lhes de exigências e reclamações sobre os pacotes. De uma das estudantes um fiscal solicitou com um safanão os seus serviços no caixa vizinho. Nestas horas, sentiam-se entregues ao mando e desmando. Márcia Ferreira Amêndola disse haver se sentido ‘demais visível’. Desejaram sumir, possuir alguma coisa que não fosse acessível ao comando dos outros.

Os pobres sofrem freqüentemente o impacto dos maus tratos. Psicologicamente, sofrem continuamente o impacto de uma mensagem: ‘Vocês são inferiores’. E, o que é profundamente grave: a mensagem passa a ser esperada. Para os pobres, a humilhação ou é uma realidade em ato ou é freqüentemente sentida como uma realidade iminente, sempre a espreitar-lhes, onde quer que estejam, com quem quer que estejam.

O sentimento de não possuírem direitos, de parecerem desprezíveis, torna-se-lhes compulsivo: movem-se e falam, quando falam, como seres que ninguém vê.

Segue urgente a tarefa de superação política e psicológica da humilhação social, tarefa que é de todos nós: tarefa a que se dedicam os cidadãos pobres, pessoal ou coletivamente, consciente ou inconscientemente, reagindo isoladamente ou em grupos organizados. [O autor (José Moura Gonçalves Filho) é do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da USP]”

 

A partir do texto acima, responda às questões:

1-    A humilhação social é um processo de discriminação a partir de que característica?

 

2-    Segundo o dicionário, Humilhação: Ação em que alguém humilha, rebaixa, diminui o valor de outra pessoa ou coisa; rebaixamento moral; afronta, diminuição.

 

Considerando as diferenças sociais/econômicas como algo que   determina seu valor na sociedade (capitalista), cite 2 exemplos de formas de Humilhação Social (pode ser ou não algo vivenciado por você)

 

3-    Faça uma reflexão sobre como a Humilhação Social pode significar um processo de alienação*

 

*Alienação

[Filosofia]: Segundo o hegelianismo, momento em que a consciência se torna desconhecida a si própria ou a sua própria essência.

 

[Psicologia] Estado da pessoa que, tendo sido educada em condições sociais determinadas, se submete cegamente aos valores e instituições dadas, perdendo assim a consciência de seus verdadeiros problemas.